Essas 16 nações representam 30,1% do PIB global. “É nítido que há um descolamento das curvas no início da pandemia e se amplia até a data atual”, disse o economista. “O efeito da pandemia foi muito mais oneroso à moeda brasileira que nos demais países emergentes que competem conosco pela atração dos investidores globais“, completou. Para elaborar o cálculo, Alex utilizou a variação diária, em percentual, dos valores nominais da relação de taxa de câmbio de cada país em relação ao dólar norte-americano. Como se trata de uma cesta com 16 países emergentes, e como cada um tem uma paridade da sua moeda, elaborou um único índice com base 100 em 02 de janeiro de 2018. O analista disse que o descolamento decorreu de uma busca de proteção no período mais agudo da pandemia, no qual o dólar se fortaleceu frente a praticamente todas as moedas. No Brasil, o dólar começou 2020, o ano da pandemia, aos R$ 4,02. Terminou aos R$ 5,19, o que representa uma alta anual de 29%. Atingiu o pico de R$ 5,90 em maio, mas continuou em valores elevados frente ao real até o fim do ano. No ano passado, a moeda brasileira foi a 6ª que mais desvalorizou. Só não caiu mais do que a bolívia soberano (Venezuela), a rúpia de Seychelles (Seychelles), a quacha (Zâmbia), o peso argentino (Argentina) e o kwanza (Angola). Em janeiro deste ano, a moeda norte-americana voltou a subir e chegou a custar R$ 5,51 em 25 de janeiro. A moeda registrou o maior aumento semanal dos últimos 7 meses em 9 de janeiro. Parte da explicação está relacionada com a insegurança dos investidores com a trajetória da dívida pública. Operadores defendem a aprovação de reformas econômicas, principalmente aquelas que melhorem as condições das contas públicas –pautas que estavam paradas desde o início da pandemia. O governo precisou expandir os gastos para socorrer as famílias, as empresas, os Estados e os municípios durante o período de crise sanitária. O rombo nas contas do Tesouro foi de R$ 743 bilhões –o equivalente a 10% do PIB do Brasil. Esse deficit ajudou a aumentar a dívida pública, que saltou de 74,3% para 89,3% do PIB em um ano. O estoque soma R$ 6,615 trilhões. A fatura a ser paga será de R$ 1,4 trilhão em 2021, sendo que 57% disso deve ser feito só no 1º semestre do ano.
Com o Congresso presidido por aliados do presidente Jair Bolsonaro, o Ministério da Economia espera “limpar a pauta” de medidas consideradas necessárias para alavancar a economia –e assim melhorar a arrecadação de tributos– e para controlar os gastos obrigatório. Aprovado em 2016, durante o governo Michel Temer, a Emenda Constitucional do teto dos gastos corre riscos elevados de ser descumprida em 2021, segundo a análise da IFI (Instituição Fiscal Independente) do Senado. Os gastos obrigatórios, que respondem por mais de 90% do orçamento federal, estão subindo a cada ano e apertando cada vez mais o espaço remanescente para despesas discricionárias –usada para pagamentos de bolsas de pesquisas, emissão de passaportes, e outros custeios administrativos, principalmente, investimentos. O governo de Bolsonaro aprovou a reforma da Previdência, que, segundo cálculos do Ministério da Economia, vai economizar mais de R$ 1 trilhão em 10 anos. Como foi criado um período de transição para os benefícios previdenciários, os efeitos são insuficientes para criar fôlego nos gastos públicos. Além disso, os gastos com a pandemia mitigaram grande volume do que seria economizado. A 2ª maior cifra do orçamento federal é o gasto com pessoal e encargos sociais. A reforma administrativa –que altera a remuneração e contratação de servidores públicos– é uma das pautas que pode reduzir as despesas obrigatórias com o funcionário público. Foi classificada como importante pelo presidente Jair Bolsonaro nesta 4ª feira (3.fev.2021), ao lado dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PL-AL) e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). O Pacto Federativo, a PEC dos fundos e a PEC Emergencial também são reformas consideradas prioritárias. As mudanças na legislação mudam o arranjo dos gastos públicos. Diminuem as despesas obrigatórias e aumentam a margem para outros investimentos. O mercado se animou com o envio das medidas e a expectativa de que o Congresso poderá aprovar as reformas. O Ibovespa, principal índice da B3 (Bolsa de Valores de São Paulo), subiu 1,26% nesta 4ª feira (3.fev), aos 119.724 pontos. Mas a alta do dólar no início do ano se deve ao risco de descomprimento do teto de gastos, que vai se intensificar. Arthur Lira e Rodrigo Pacheco defendem a continuidade do pagamento do auxílio emergencial, o coronavoucher implementado durante a pandemia. Ambos defendem que será possível respeitar a emenda constitucional.REFORMAS E VALORIZAÇÃO DO REAL
O mercado já aceitou que é quase certa a volta do pagamento de algum tipo de auxílio emergencial. Assim como Lira, Baleia Rossi (MDB-SP), seu principal adversário na eleição da Câmara, levaria a pauta de retomada do benefício à mesa. Desde o início da campanha dos congressistas, os ativos têm sido precificados pela expectativa de aumento das despesas obrigatórias. Parte do mercado avalia ser possível dar continuidade ao auxílio, desde que seja menor que o implementado em 2020, tenha prazo de validade para evitar postergações desnecessárias e que a agenda econômica seja priorizada.O governo precisará demonstrar capacidade de conversar com o Congresso para que, juntos, convençam a sociedade de que haverá mudança na trajetória da dívida.
O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, em vídeo para seu canal no YouTube.Reprodução/YouTube



