Organização Mundial da Saúde (OMS) registrou, entre sábado e ontem, 230.370 novos casos de covid-19. Em aceleração, pandemia leva Espanha e África do Sul a retomarem medidas de confinamento. Estados Unidos, Brasil e Índia somam o maior número de infecções
Entre sábado e ontem, 230.370 pessoas contraíram o novo coronavírus em todo o mundo — recorde de infecções diárias registrado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Até o fechamento desta edição, os números de contágios e de mortes chegavam, respectivamente, a 12.866.958 e a 568.003. Estados Unidos (3.302.194), Brasil (1.864.681) e Índia (849.553) figuram entre as nações com mais casos de covid-19. A quantidade de óbitos a cada 24 horas se mantém estável no patamar dos 5 mil. Com a pandemia em aceleração, países e estados que ensaiaram uma reabertura das atividades econômicas viram-se forçados a retornar ao isolamento.
A África do Sul decidiu impor toque de recolher noturno e suspender a venda de álcool, em meio a uma recidiva do novo coronavírus. “À medida que avançamos para o pico de infecções, é vital não sobrecarregar nossas clínicas e hospitais com lesões associadas ao álcool, que poderiam ter sido evitadas”, declarou o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa. O país soma 264.184 casos de covid-19 e 4.079 mortes.
As autoridades da Catalunha (nordeste da Espanha) também ordenaram que 200 mil habitantes da cidade de Lérida cumpram confinamento obrigatório. “Há um problema de contágios na cidade em decorrência do alto número de trabalhadores na colheita de frutas da estação. Também não temos instalações de saúde suficientes e muitos desses trabalhadores, apesar de sintomáticos, não estão sendo acompanhados”, disse ao Correio o professor Fabio Fernández, 29 anos, morador de Lérida.
“A partir desta noite, hotéis e restaurante deverão permanecer fechados. A circulação de pessoas somente estará permitida para trabalho, atividades essenciais e prática esportiva.” Também em Lérida, Robert Masip, 45, professor do ensino primário, contou que mais sete cidades terão de respeitar a quarentena. “O governo espanhol nada fez para solucionar o problema dos imigrantes que chegaram à região. Agora, a Catalunha toma medidas drásticas”, afirmou à reportagem.
Nos Estados Unidos, a Flórida também registrou um recorde: 15.229 contágios pelo novo coronavírus em um dia, superando a marca da Califórnia, de 11.694, na última quarta-feira. O governador da Flórida, o republicano Ron DeSantis, antecipou-se a outros estados norte-americanos e reabriu a economia em 4 de maio. Entre terça-feira e ontem, mais de 55,8 mil pessoas foram diagnosticadas com o Sars-CoV-2, o vírus causador da covid-19.
Coordenador na Flórida da organização United We Dream, a maior rede de imigrantes jovens dos EUA, Thomas Kennedy submeteu-se a um teste de diagnóstico exatamente uma semana atrás e ainda aguarda o resultado. “Estou com uma leve tosse, nada sério. Mas eu quis saber se estou com covid-19, pois o estado teve mais de 15 mil casos somente hoje (ontem)”, contou à reportagem. “O governador não levou a pandemia a sério. Demorou demais para fechar as coisas e as reabriu muito cedo. Também não exigiu o uso de máscaras em todo o estado”, acrescentou Kennedy.
Em entrevista ao Correio, Mark Schleiss, pesquisador do Instituto de Virologia Molecular da Universidade de Minnesota, afirmou ao Correio que considera impressionante o fato de alguns países terem ignorado a ciência e transformado a pandemia em assunto político. “Descartar a importância da informação científica é uma atitude desdenhosa e condescendente que revela desprezo por cientistas, médicos, epidemiologistas e pesquisadores. A falta de empatia e de respeito à vida humana, por parte de líderes, é evidente. Nos EUA, por exemplo, algumas autoridades sugerem que a morte é o preço a ser pago para manter a economia aberta. Quem somos nós para julgar quais pessoas deveriam ser descartadas e abandonadas para morrer? Já temos perto de 600 mil mortes, e haverá mais de 1 milhão até o fim do verão. O vírus é letal”, advertiu.
De acordo com Schleiss, o Sars-CoV-2 é uma nova cepa de vírus, com a qual a população mundial não possui “experiência imunológica”. “Outra questão se trata do código genético do novo coronavírus. Ele surgiu com a capacidade única de infectar células liberando um receptor de vírus chamado ACE2, o qual provoca grandes danos ao corpo, principalmente aos pulmões. Além disso, a resposta imune do hospedeiro é muito grave e uma das principais fontes de perigo da infecção”, comentou. O especialista adverte que, por ser um dos vírus mais infecciosos já descobertos, o distanciamento social e o uso de máscaras são cruciais.
“Nunca fui contra máscaras”
Na tarde de sábado, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apareceu em público usando uma máscara, pela primeira vez. O republicano visitou o hospital militar Walter Reed, em Bethesda (Maryland). Pouco depois, ao retornar à Casa Branca, Trump foi confrontado por jornalistas, que o questionaram sobre a mensagem por trás do uso da máscara. “Eu provavelmente terei uma máscara. Quando você está em um hospital, especialmente daquele tipo, onde você fala com vários soldados e pessoas que acabaram de sair da sala de cirurgia, acho ótimo usar máscara. Nunca fui contra máscaras, mas acredito que elas têm hora e lugar”, disse o magnata.
Eu acho...
“Temos visto que 60% dos 12 milhões de casos de infecção no mundo, desde o começo da pandemia, ocorreram em junho. É um sinal claro de que a pandemia está se acelerando, principalmente em países liderados por políticos que optaram por ignorar as medidas de saúde públicas projetadas para limitar a propagação do coronavírus. Mais de 160 mil casos são relatados todos os dias. Considero a questão de grande urgência global.”, Mark Schleiss, professor de pediatria e pesquisador do Instituto de Virologia Molecular da Universidade de Minnesota (EUA).