Paulo Marinho será ouvido pela corporação e promete provar a acusação de que Flávio Bolsonaro soube com antecedência da operação policial que implicaria Queiroz. Em nova oitiva, Carlos Henrique Oliveira diz que Ramagem o chamou para ser diretor executivo da instituição
O empresário Paulo Marinho, que virou pivô de um escândalo envolvendo o suposto vazamento de informações da Operação Furna da Onça para o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), presta depoimento, hoje, à Polícia Federal. Coordenador da campanha de Jair Bolsonaro em 2018, ele vai dar detalhes que aprofundam suspeitas de interferência do chefe do Executivo na corporação. De acordo com o empresário, um delegado contou a Flávio, entre o primeiro e o segundo turno das eleições, que Fabrício Queiroz, então assessor do filho 01 do presidente, seria alvo de uma ação policial com base em um esquema de rachadinha montado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Marinho foi incluído como testemunha no inquérito que trata de acusações feitas pelo ex-ministro Sergio Moro contra o comandante do Planalto. A situação de Bolsonaro no inquérito se agravou ontem. Carlos Henrique Oliveira, ex-superintendente da PF no Rio e atual diretor executivo da corporação, deu novo depoimento no inquérito e mudou sua versão. Ele disse ter se encontrado com o presidente, no ano passado, antes de ser indicado para comandar a superintendência fluminense. Segundo afirmou, a conversa ocorreu no Palácio do Planalto e foi intermediada pelo atual diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, próximo da família Bolsonaro e que chegou a ser nomeado diretor-geral da PF — a posse dele foi barrada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).No primeiro depoimento, Oliveira tinha afirmado que não recebeu nenhum convite de pessoas cotadas para o comando da PF. No entanto, ontem, disse que “na realidade, gostaria de esclarecer que foi procurado no dia 27 de abril do corrente ano pelo delegado de polícia Alexandre Ramagem, que perguntou para ele, depoente, se aceitaria ser diretor executivo da Polícia Federal durante a sua gestão”.
Em relação ao encontro com Bolsonaro, Oliveira declarou que ocorreu entre outubro e novembro do ano passado. Ele também destacou que Ramagem era delegado da Operação Cadeia Velha, que deu origem à Furna da Onça, da qual teriam sido vazadas informações para Flávio.
Na entrevista que deu à Folha de S.Paulo, o empresário Paulo Marinho afirmou que um delegado procurou Flávio para informar sobre as investigações contra Queiroz. Ele também disse que a Operação Furna da Onça, que mirou o ex-assessor do filho do presidente, foi adiada para não prejudicar a campanha de Bolsonaro. Fontes internas afirmam que a PF já tem nomes que podem ter vazado as informações, um deles figura como principal suspeito. No entanto, ainda faltam mais elementos para caracterizar o desvio de conduta.
Novas diligências
A Corregedoria da Polícia Federal vai ouvir delegados e policiais que atuaram na Furna da Onça para apurar eventuais vazamentos. Entre os que serão ouvidos está a delegada Xênia Soares, presidente do inquérito da operação, e os policiais que trabalharam na investigação. Xênia Soares é delegada desde 2009 e também participou da Furna da Onça, responsável pela prisão de Jorge Picciani, então presidente da Alerj, e dos deputados estaduais Paulo Melo e Edson Albertassi.
A operação ocorreu como desdobramento da anterior, a Cadeia Velha, que prendeu outros 10 deputados estaduais, sob acusação de recebimento de propina e compra de votos durante a gestão do governador Sérgio Cabral. Quando as investigações foram deflagradas, Ramagem já era o chefe da equipe de segurança do então candidato à presidência Jair Bolsonaro. Ele assumiu a função em 1º de novembro de 2018. Antes disso, estava lotado em Brasília, na Coordenação de Recursos Humanos da PF.
Tentativa
O momento do encontro, segundo semestre de 2019, marca a primeira tentativa de Bolsonaro em emplacar um nome de sua confiança na chefia da PF do Rio, após a exoneração do então superintendente Ricardo Saadi. O presidente queria Alexandre Saraiva, do Amazonas, mas o nome indicado pela cúpula da PF era Oliveira, então superintendente em Pernambuco.