Quando o crime é praticado na família, a polícia não tem como realizar ações preventivas
*Adalberto SantosEstatísticas da evolução da criminalidade divulgadas no último levantamento da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo preocupam. Embora alguns índices apresentem quedas significativas, como os casos de roubos e latrocínios, os números de homicídios dolosos tiveram aumento expressivo, em torno de 10%, na região de Campinas se comparando o primeiro semestre deste ano com o mesmo período de 2018.
Um fato que chama a atenção é o contexto em que esses crimes ocorrem. Observa-se que conflitos interpessoais entre desconhecidos e conhecidos, entre familiares, e entre casais somam mais da metade (52,10%) do total de homicídios praticados no primeiro semestre de 2019, frente a 46,37% no período de janeiro a junho do ano passado. Ou seja, os conflitos interpessoais (seja eles familiares ou não) estão matando mais do que os acertos de conta do tráfico. Outro dado alarmante neste período foi o crescimento dos números de estupro de vulnerável na região de Campinas, com crescimento de 5,07% na comparação com 2018. Os casos de homicídios e estupro de vulnerável carregam uma peculiaridade a localidade em que acontecem. A maioria destes crimes é praticada dentro de casa, onde a polícia não consegue estar de forma preventiva. Obviamente não tem como colocar um policial em cada residência, portanto é preciso ficar atento a alguns sinais que são dados, como por exemplo a mudança de comportamento de familiares. Assim entendemos que outros órgãos deveriam ser envolvidos de forma mais incisiva para minimizar a possiblidade desses tipos de delitos acontecerem, protegendo não só as famílias, em especial os menores em situação de risco. Apesar de fazer parte das estatísticas policiais, esses casos deveriam ser abordados por equipes multidisciplinares, como assistentes sociais, psicólogos e outros especialistas, seja do poder municipal ou estadual. De forma profissional e adequada, o ideal é que o assunto fosse abordado no ambiente escolar, para ajudar crianças a detectarem sinais de perigo e se protegerem, bem como ensiná-las a respeitar e se respeitarem sem a necessidade de força bruta. Só assim vamos conseguir construir uma geração mais tolerante e menos violenta dentro da própria família. *Adalberto Santos é especialista em segurança e diretor superintendente da Sigmacon. É consultor, palestrante, analista em segurança empresarial e criminal. Possui pós-graduação de processos empresariais em qualidade, MBA em administração e diversos títulos internacionais na área de segurança.