Brasil: campeão mundial na violência contra professores
14/06/2019 14/06/2019 11:28 243 visualizações *Luiz Flávio Gomes
O Brasil que pegou o caminho errado (estamos falando do Brasil fundado na “filosofia” de Valesca Popuzuda: “tiro, porrada e bomba”) está levando os brasileiros a conhecerem as profundezas do inferno descrito por Dante, naDivina Comédia. Que falta nos faz um estadista com sentido moral, absolutamente comprometido com sua não reeleição, que promova mudanças estruturais radicais! Pesquisa divulgada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econônico (OCDE) apontou o Brasil como o país com o maior número de casos de violência contra professores. O estudo, chamado Talis (Teaching and Learning International Survey), foi baseado em um questionário internacional de larga escala que focava as condições de trabalho dos professores e da aprendizagem nas escolas, com o objetivo de formular políticas públicas a respeito do tema. Foram entrevistados mais de 100 mil professores e diretores de escolas do segundo ciclo do ensino fundamental e do ensino médio em 34 países. A pesquisa revelou que 12,5% dos professores entrevistados no Brasil disseram ser vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana, ocupando a pior posição nessa área dentre todos os países pesquisados, que apresentam a média de 3,4%. Colados no Brasil estão a Estônia (11%) e a Austrália (9,7%). Coréia do Sul, Malásia e Romênia aprensentaram índice zero de violência contra os professores. O Brasil, com sua cultura de tolerância zero, se transformou no campeão mundial em violência contra professores; a Coreia do Sul tem violência zero. Por que somos tão diferentes? Em 1964 o Brasil, por meio de um golpe de estado, tomava a decisão de mergulhar no inferno da política do “tiro, porrada e bomba”. Resultado: milhares de desaparecidos, centenas de mortos, estupros, tortura, exílios, 21 anos de regime militar, perda do poder aquisitivo do salário mínimo, aumento na concentração de renda e da desigualdade, freio nas liberdades, escolaridade baixíssima etc. Com a redemocratização do país (1985), os novos donos do poder se livraram da vida militarizada, mas a filosofia da violência não saiu de dentro deles. Resultado: não conseguimos sair do atraso socioeconômico e educacional: 95º lugar no IDH (computando a desigualdade), campeão mundial em homicídios (em números absolutos: 57 mil por ano), ¾ da população são de analfabetos funcionais, taxa de 29 assassinatos para cada 100 mil pessoas, aqui estão 16 das 50 cidades mais violentas do planeta, aqui acontecem 11% de todos os assassainatos do mundo etc. No mesmo ano (1964) a Coreia do Sul (que tinha renda per capita muito inferior ao Brasil) tomava a decisão de colocar todo mundo nas escolas (desde o jardim da infância até às universidades). Aqui, “tiro, porrada e bomba”; lá, “civilização, conhecimento, tecnologia e cidadania”. Resultado: lá não existe violência contra os professores, 2/3 da população têm formação superior, renda per capita 3 vezes maior que a brasileira, 2 assassinatos para cada 100 mil pessoas, 15º no IDH etc. Cada país tem sua história, é verdade, mas essa história não brota da terra como produto da natureza. Ela é construída pelas decisões de suas lideranças. Algumas são competentes e têm visão de futuro, outras não. Os resultados entre os vários países mostram as diferenças (os erros e acertos). A pesquisa da OCDE ainda indicou que, apesar dos problemas, a grande maioria dos professores no mundo se diz satisfeita com o trabalho; eles são apoiados e reconhecidos pela institutição escolar assim como pela sociedade em geral. Com relação à satisfação dos professores brasileiros na carreira, apenas 12,6% acreditam que exista uma valorização da profissão pela sociedade. Nesse item estamos entre os dez últimos no ranking. A média global de satisfação dos professores é de 31%. A Eslováquia é a última: apenas 3,9% dos entrevistados acreditam serem respeitados pela sociedade, seguida de França e Suécia com 4,9%. Os professores brasileiros recebem 1,9 mil reais por mês, três vezes menos que a média total dos países da OCDE, de 5,7 mil reais. Entra governo e sai governo e os professores continuam mal pagos, maltratados, desestimulados e desesperançados. Os donos do Brasil, invertendo a máxima de Pitágoras (grego, filósofo), preferem punir os adultos (sempre seletivamente) a educar as suas crianças. O que é isso? Falta de educação dos donos do país. Eles não sabem que “Educação é uma descoberta progressiva de nossa própria ignorância” (Voltaire, francês, filósofo). *Luiz Flávio Gomes -Criador do movimento de combate a corrupção, “Quero um Brasil Ético”. Professor, Jurista, Deputado Federal por São Paulo e Membro da CCJ. Foi Delegado, Promotor de Justiça e Juiz de Direito, exerceu também a advocacia. Fundou a Rede LFG, democratizando o ensino jurídico no Brasil. Diretor-presidente do Instituto de Mediação Luiz Flávio Gomes. Doutor em Direito Penal pela Faculdade de Direito da Universidade Complutense de Madri. Mestre em Direito Penal pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Publicou mais de 60 livros, sendo o seu mais recente “O Jogo Sujo da Corrupção”. Foi comentarista do Jornal da Cultura. Escreve para sites, jornais e revistas sobre temas da atualidade, especialmente sobre questões sociais e políticas, e seus desdobramentos jurídicos.